RELAÇÕES DE GÊNERO E HIERARQUIA NOS ESPAÇOS VIRTUAIS DA COMUNIDADE BDSM
Palavras-chave:
sexualidades, dissidentes, gêneros, comunidadesResumo
Este resumo apresenta os resultados da pesquisa de iniciação científica que busca etnografar virtualmente grupos da comunidade BDSM, sob a ótica das relações de gênero, sexualidade e hierarquia relacionados à prática erótica consentida. O recorte está situado na formação de comunidades fetichistas no centro-oeste brasileiro, Brasília-Anápolis-Goiânia, no qual observa-se como as relações sadomasoquistas são influenciadas pelas condições hegemônicas da cultura e como se dá sua virtualização. Os dados de campo são reunidos a partir da identificação, sistematização e análise de conteúdos expostos em três redes sociais e dois grupos de WhatsApp de BDSM - com duas propostas diferentes de interação-, para compreender em que medida os BDSMers (re)significam as normas de gênero e sexualidade e as subvertem, e consequentemente como essa (re)significação é fundamentada a partir de praticantes locais nas comunidades virtuais. A experiência etnográfica se dá na interação como pesquisadora e parte da comunidade, buscando sistematizar por meio da análise de conteúdo, os acontecimentos e discussões que geram maior engajamento, respeitando o anonimato de BDSMers. A pesquisa caracterizou o perfil dos participantes, ou seja, identificou e sistematizou marcadores sociais que corroboram a compreensão da comunidade territorialmente estabelecida. Com práticas sexuais que desviam da norma e que são dissidentes no contexto de continuar se reconfigurando e existindo, a etnografia virtual compreendeu como se dá a relação entre os praticantes de BDSM, considerando as dimensões hegemônicas da cultura no eixo delimitado que podem afetar a hierarquia dessa comunidade sob a ótica de gênero. Destacamos assim o papel político exercido pela comunidade BDSM, visto que a despolitização de uma prática desviante reverbera também na estigmatização dos praticantes ou em questionamentos que ameacem essa subcultura e a segurança dos praticantes diante de discussões jurídicas ou diagnósticas. Entendendo esses marcadores como dados de importância em comum nos grupos da região geográfica pesquisada, alinhamos com as teorias de gênero e de hierarquia, para melhor compreender o campo e seus sistemas internos de poder a partir de Gayle Rubin (2017). Nesse sentido assimilamos como a defesa do Old BDSM se faz à medida que se argumenta sobre supostos valores da comunidade que foram perdidos nos anos recentes - em que surgiria o New BDSM em oposição a esse valores -, e é realizada em dois contextos distintos: primeiro em um momento de reafirmação de uma hierarquia total do Top sobre o bottom e posteriormente em um momento de crítica ao BDSM se tornar uma comunidade mainstream, dessa forma atraindo pessoas curiosas, seduzidas por uma visão distorcida do BDSM, que não faria jus à realidade da comunidade e suas bases de consentimento e segurança. Nesse contexto, a pesquisa corrobora a perspectiva posta por Fernanda Bonfim (2024), ao defender a produção acadêmica sobre a comunidade feita por pessoas da comunidade, se alinhando ao objeto acadêmico-científico com maior capacidade de abstração, usando como exemplo as produções de outras dissidências, como as LGBT+, em que cada vez mais os grupos falam por si e pesquisam seus recortes sociais numa perspectiva acadêmica, assim como uma das autoras deste trabalho.