LITERATURA BRASILEIRA DE AUTORIA FEMININA NEGRA: UMA ANÁLISE COMPARATIVA
Palavras-chave:
literatura feminina, literatura negra, Maria Firmina dos Reis, Conceição Evaristo, autoria femininaResumo
Este trabalho é o resultado de pesquisa de iniciação científica realizada por alunos do ensino médio técnico do IFG - Câmpus Anápolis sob a supervisão da professora de literatura brasileira do referido câmpus. O estudo foi subsidiado pela CNPQ e tem como tema a literatura brasileira de autoria feminina negra. Tal tema é de grande relevância, tendo em vista o passado de silenciamento do povo negro não só na literatura como também em todos os campos sociais em nosso país, produzindo um contexto ainda racista e de grande desigualdade racial. O tema foi explorado a partir da análise de duas obras literárias escritas por mulheres brasileiras negras, quais sejam: “Úrsula” de Maria Firmina dos Reis e “Ponciá Vicêncio” de Conceição Evaristo. O estudo procurou, utilizando da metodologia de análise comparativa de obras literárias, observar a evolução da representação da população negra na literatura brasileira e as mudanças na militância antirracista dessa literatura, tentando mostrar as divergências e semelhanças de uma obra escrita antes da abolição da escravidão, “Úrsula” (1859), e uma obra escrita mais de 100 anos após a abolição, “Ponciá Vicêncio” (2003). Após a leitura e análise comparativa das obras, notou-se divergências e convergências entre elas. Entre os resultados alcançados, foi possível perceber que as divergências se referem principalmente sobre a estética das obras, no que se referem aos aspectos de: estrutura, linguagem, personagens e cenários, que são ocasionadas pelo tempo histórico em que foram produzidas e as influências de época, uma vez que “Úrsula” foi escrita sob as influências do romantismo e “Ponciá Vicêncio” sob a literatura brasileira pós modernista ou contemporânea. Já as convergências se apresentam sobretudo sobre a militância antirracista e antimachista das referidas obras, já que ambas trazem mulheres negras como personagens. Sob este aspecto, notou-se que houve um grande avanço na representação do(a) negro(a) na literatura brasileira, haja vista que de uma posição de personagens coadjuvantes na obra de Maria Firmina dos Reis, os negros passam a uma categoria de protagonistas. Se em “Úrsula” o enredo gira em torno de conflitos vividos por brancos, em “Ponciá Vicêncio” é a própria condição do negro e suas lutas que configuram a trama da narrativa. Enquanto em Firmina dos Reis, o negro é virtuoso e encarna valores cristãos para ser aceito pela sociedade branca interna e externa à obra; em Evaristo, a face “nua” do negro é exposta com seus bens e males, sua força e sua fraqueza. Portanto, a maior evolução entre as representações presentes na obra é a transformação do negro idealizado como bom e servil, para o negro humanizado, ou seja, colocado na mesma condição de ser humano do branco, portanto passível de dores e alegrias, nem subalterno e nem superior. Essa nova representação na literatura pode contribuir para a construção de uma sociedade menos racista.