A REALIZAÇÃO DE CURTAS DE FICÇÃO NO CONTEXTO ACADÊMICO: MÉTODOS E PROCESSOS CRIATIVOS

Autores

  • Michel Queiroz Ferreira
  • Gabriel Alves Leão
  • Estevão de Pinho Garcia
  • Cristiane Moreira Ventura

Palavras-chave:

realização cinematográfica, processo criativo, metodologia de ensino, ensino de cinema, curta de ficção

Resumo

As obras que tratam da prática da produção de filmes geralmente focam em procedimentos, métodos de trabalho e comportamentos dos profissionais envolvidos nas diversas equipes. O objetivo principal é alcançar eficiência, funcionalidade e resultados técnicos de qualidade. Para isso, são criados fluxogramas e hierarquias que organizam os diferentes departamentos, como direção, produção, fotografia, arte, som e pós-produção. Esses padrões, que são internacionais, são seguidos pelas grandes produções brasileiras para garantir o sucesso e atender às exigências do mercado, especialmente visando altas bilheterias. No entanto, o cinema de produção independente, que costuma ter equipes menores e orçamentos mais reduzidos, também segue essas etapas, mas com uma exigência maior de supervisão por parte do diretor, que muitas vezes precisa desempenhar várias funções ao mesmo tempo. Assim, mesmo com recursos limitados, o processo de produção mantém suas fases essenciais. Já no âmbito acadêmico, a realidade é bem diferente. Geralmente, não há orçamento, os equipamentos estão desatualizados e todos os envolvidos estão aprendendo na prática, muitas vezes sem experiência prévia em um set de filmagem. Nesse contexto, o principal objetivo é o aprendizado. O professor atua como um guia ou mediador, apresentando ou simulando um set que se aproxime da realidade profissional, sempre atento às particularidades do ambiente local e ao processo de aprendizagem múltiplo que a realização cinematográfica exige. Nesse processo de ensino, é comum que haja frustrações, pois nem sempre se consegue o resultado desejado ou mesmo um produto final completo. Problemas técnicos, dificuldades na montagem ou outros obstáculos podem levar a filmes inacabados. É importante entender que o erro faz parte do aprendizado e que o ambiente acadêmico é um espaço onde se pode errar sem prejuízo, como uma etapa fundamental na construção do conhecimento. Pensando além da lógica de sucesso ou fracasso, a pesquisa que realizamos buscou entender se as práticas pedagógicas no ensino de realização cinematográfica estão alinhadas ao modelo industrial ou se estão promovendo novas linguagens, práticas mais inclusivas e transformadoras. Questionamos também se os materiais inacabados podem ser considerados dados armazenáveis ou se podem gerar algo além do que foi inicialmente planejado. A pesquisa começou com um estudo bibliográfico sobre o trabalho do cineasta, buscando compreender as práticas diárias e as referências usadas nas disciplinas de realização. Notamos que a maior parte das fontes é de autores do norte global, com realidades diferentes da nossa, que focam em sucesso, eficiência e resultados neoliberais, pouco abordando práticas mais inclusivas e transformadoras. Depois, investigamos os cursos de cinema no Brasil, especialmente aqueles voltados para ficção, analisando seus projetos pedagógicos. Por fim, realizamos entrevistas com alunos e professores de disciplinas de realização. A partir das falas, percebemos que, mesmo que o filme não seja concluído, a vivência do processo de filmagem proporciona aprendizados valiosos. O que realmente importa nesse contexto é a experiência adquirida durante o fazer, mais do que o produto final.

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Publicado

2025-07-11