AGNOTOLOGIA E PÓS-VERDADE: REFLEXÕES FILOSÓFICAS SOBRE A NATUREZA DA IGNORÂNCIA

Autores

  • Isabela de Souza Braz
  • Marcos Vinicius da Costa Meireles

Palavras-chave:

obscurantismo, negacionismo científico, pós-verdade, desinformação, crença

Resumo

Esta pesquisa teve como objetivo investigar sobre a natureza da ignorância e como ela tem sido produzida na era da pós-verdade. A “pós-verdade”, mais do que um indicativo temporal, aponta para a perda de relevância da verdade na atualidade, inaugurando uma era de contestação da existência da própria realidade objetiva. Nesse sentido, a investigação sobre a ignorância é uma busca por compreendê-la enquanto um constructo social, fruto das interações entre os sujeitos. Ao legitimar percepções particulares em detrimento de fatos objetivos, sem se ater aos critérios de validade formal da produção do conhecimento, põe-se em marcha as estratégias de produção da ignorância, cujo objetivo é confundir o julgamento dos fatos e aniquilar visões divergentes. Trata-se de projetos autoritários e antidemocráticos que geram o obscurantismo. O campo de estudo nascente nesse contexto que objetiva investigar sobre a produção da ignorância é o que se denomina de agnotologia, derivado do grego agnosis - ignorância. Esta pesquisa se desenvolveu a partir de uma metodologia de natureza bibliográfica, fenomenológico-descritiva e dedutiva dos conteúdos a partir da compreensão dos conceitos e reflexão sobre a nossa realidade, buscando perceber como a ignorância é produzida/reproduzida. Explorar como a ignorância é produzida ou mantida em diversos cenários requer investigar como ocorre a negligência deliberada ou inadvertida de determinados tipos de conhecimento, tais como o sigilo e a supressão da informação, a destruição de documentos e dados e inúmeras formas de seletividade cultural. O interesse nesta pesquisa nasce da vontade de compreender como em uma era em que as informações estão à disposição, com milhares de dados produzidos, como nos tornamos tão suscetíveis e ignorantes, e da necessidade de encontrar uma saída, ou ao menos, chegarmos mais próximos de uma. A partir dessa curiosidade e dos materiais de pesquisa utilizados, pudemos chegar a conclusão que não sabemos o que não sabemos não só porque tendemos a acreditarmos no que queremos, mas há todo um emaranhado de vieses cognitivos e estratagemas sociais que nos levam a acreditar em informações infalíveis, por serem justamente as que satisfazem nossa necessidade de acurácia, fomentando ainda mais a conformação e a produção de uma sociedade cada vez mais ignorante. Por fim, podemos concluir que para além de nossas predisposições cognitivas para ignorância, sua origem vai ainda mais afundo, transcendendo nosso papel cognitivo para nossos papéis como cidadãos, nos levando a uma teia complexa de várias vertentes sociais que juntas formam uma sociedade predominantemente ignorante.

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Publicado

2025-07-11