O CONTROLE DO CORPO FEMININO NO ESPORTE DE ALTO RENDIMENTO POR MEIO DAS VESTIMENTAS
Palavras-chave:
vestimentas, corpo feminino, controleResumo
Esta pesquisa teve como objetivo analisar o controle exercido sobre o corpo das atletas de alto rendimento através de suas vestimentas, com base em matérias publicadas na internet entre 1998 e 2021. O estudo, de natureza documental, utilizou a Análise do Discurso de Matriz Francesa como procedimento metodológico, considerando o contexto, os agentes sociais envolvidos e os discursos pertinentes. Foram selecionadas dez matérias de grande repercussão sobre esta temática, excluindo-se as relacionadas à tenista americana Serena Williams, que serão analisadas separadamente em um estudo futuro. O controle dos corpos das atletas foi identificado a partir de imposições e do policiamento dos códigos das vestimentas. Observou-se que as Federações Internacionais desempenharam o papel predominante nesse controle, responsáveis por 40% das ocorrências, seguidas pela arbitragem (20%), governo e mídia (ambos com 10%). Em duas matérias, não foi possível identificar claramente esse controle. Em oito delas, as atletas demonstraram resistência à imposição de uniformes pequenos e justos por parte das federações esportivas, enquanto, em apenas uma matéria uma atleta afirmou sentir-se confortável com esse tipo de uniforme. Em dois casos, as atletas foram multadas por não utilizarem os uniformes reduzidos e reveladores, exigidos pelos regulamentos vigentes. Esses regulamentos estabelecem os uniformes femininos com base em padrões hegemônicos de gênero, privilegiando a aparência em detrimento do conforto e da performance das atletas. Desde o final do século XX, as atletas têm se mobilizado contra o uso dessas vestimentas, reivindicando o direito de decidir sobre o que vestir. Elas também destacam as diferenças de tamanho e modelagem entre os uniformes masculinos e femininos de uma mesma modalidade: os uniformes masculinos priorizam as habilidades atléticas, enquanto os femininos enfatizam a aparência das atletas. A imposição dos códigos de vestir, em grande parte promovida pelas federações esportivas, perpetua estereótipos de género, como o ideal de ser “bela, sexy e feminina”, uma vez que a mídia tende a dar maior visibilidade a atletas e modalidades que se alinham a esses padrões, com o objetivo de atrair o público. Quando as federações decidem o que as atletas devem vestir, as mulheres são silenciadas. Contudo, quando tem liberdade de escolha e optam por uniformes que acentuam suas formas corporais, ao invés de suas habilidades, podem inadvertidamente reforçar narrativas tradicionais de género. Outra forma de controle do corpo foi evidenciada quando as atletas foram constrangidas por suas vestimentas supostamente não terem “decoro” ou “decência”. Esta pesquisa evidenciou que o intervalo de mais de vinte anos entre a matéria intitulada "Seleção feminina terá de pagar US$ 3.000 por não seguir a determinação da federação de vestir 'macaquinhos'", publicada em 1998, e a matéria "Sexualização no esporte: o uniforme que ginastas alemãs estão usando para lutar contra o problema", publicada em 2021, foi marcado por um controle contínuo sobre o corpo feminino, seja pela tentativa de expô-lo ou de cobri-lo. E embora as mulheres tenham conquistado avanços significativos no esporte, sua liberdade de escolha permanece limitada, e seus corpos continuam a ser objetificados.