VOZES-MULHERES: O FEMININO EM CONCEIÇÃO EVARISTO E DINA SALÚSTIO
Palavras-chave:
Feminino negro, literatura afro-brasileira, literatura africanaResumo
Por muitos séculos, a mulher foi representada na Literatura através da percepção masculina, de modo que a visão dos homens sobre o feminino é que prevaleceu para a formação de um imaginário coletivo sobre o que é ser mulher, sobretudo o que é ser mulher negra. Somente a partir do momento em que as mulheres negras tomaram para si a tarefa de narrar suas experiências e realidades que passamos a ter um olhar menos estereotipado sobre elas. Partindo desse contexto, o presente estudo teve por objetivo realizar uma análise comparativa entre a obra Olhos d`água, da escritora brasileira Conceição Evaristo e de Mornas eram as noites, da cabo-verdiana Dina Salústio, duas influentes escritoras da contemporaneidade. Ambas trazem em seus textos a pluralidade do feminino negro, bem como experiências que lhes são próprias. A pesquisa justifica-se na relevância do tema para a área da literatura, uma vez que a análise das narrativas e vozes das mulheres negras é essencial para descolonizar o discurso eurocêntrico, proporcionando uma compreensão mais complexa e inclusiva do que significa ser mulher. O estudo aqui apresentado é o resultado de uma pesquisa qualitativa de natureza bibliográfica, realizada no Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC) com apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ). Em relação aos resultados obtidos, percebeu-se a semelhança existente entre os contos, principalmente em relação a temática de escrita proposta pelas autoras, ambas trabalham temas como solidão, violência e maternidade relacionados as vivências das mulheres negras. No entanto, Salústio utiliza-se de uma linguagem mais poética e musical, influenciada pela tradição da morna, gênero musical cabo-verdiano, mas também em um tom ensaístico para denunciar os contextos de violência sofridos pelas mulheres caboverdianas. Enquanto Evaristo emprega uma linguagem mais coloquial e próxima da oralidade, com forte influência da cultura afro-brasileira na representação das dores e alegrias que perpassam os enfrentamentos cotidianos da mulher negra. O modo como representam as experiências e a pluralidade do feminino negro, acreditamos levar as leitoras negras a se identificar com o narrado e se sentirem representadas pelas obras analisadas. Esperamos aprofundar os estudos acerca da contística de Evaristo e Salústio, apresentando como elas representam a mulher negra em sua pluralidade. Pretendemos, ainda, ampliar o diálogo Brasil-África, considerando a semelhança de nossa literatura, de nossa história e de nossas vivências.