ANCESTRALIDADE E FÉ: REPRESENTAÇÕES DO CANDOMBLÉ NA CONTÍSTICA DE MÃE BEATA E MESTRE DIDI

Autores

  • Kauany Sousa Soares
  • Poliane Vieira Nogueira

Palavras-chave:

Candomblé, Oralidade; Resistência, Representação Literária

Resumo

A fé é ancestral, pois é um dos elementos fundamentais da cultura humana, presente em nossas raízes, história e também na litetatura. O candomblé, religião afro-brasileira de matriz africana, ainda é pouco representada na literatura brasileira, tendo menos estudos ainda sobre os modos como esta representação se dá. Neste sentido, nos dedicamos a pensar a representação do candomblé na literatura brasileira a partir da contística de Mãe Beata de Yemonjá e de Mestre Didi. Focamos em textos que representam a fé dos povos de terreiro, a partir da narrativa de histórias que compõem um saber sagrado para quem pratica esta fé. A oralidade dos povos africanos, que transmitia crenças e mitos, desempenhou um papel central, sendo essencial para a preservação da sua cosmovisão. Neste sentido, recorremos Eliade (1972), o mito narra como uma realidade é explicada no mito, estabelecendo uma relação profunda com o sagrado. No arcabouço teórico desta pesquisa também utilizamos a autora Leda Martins (2001) que cunha o termo "oralitura", validando a oralidade como literatura, bem como outras performances narrativas, que ocorrem no candomblé. Recorremos ainda ao pensamento da socióloga Oyèrónkẹ́ Oyěwùmí (2023) que nos auxilia a compreender as relações do camdomblé com a cultura yorubá. Para este estudo, nos valemos da pesquisa bibliográfica de caráter qualitativo para analisar a representação desta fé na contística de Mãe Beata de Yemonjá e Mestre Didi que assumiram em suas obras o lugar de registrar os mitos orais que perpassam o Candomblé. Para melhor aprofundamento nas análises críticas das obras, selecionamos os contos: “A pena de ekodidé“, “Caroço de Dendê“, e ”Exu e os dois irmãos”, de Mãe Beata, que compõem a obra Caroço de Dendê: A Sabedoria dos Terreiros, de Mãe Beata e os contos ”A vingança de Exu” e “Obaluwaiyê o dono da peste” que compõem Contos Negros da Bahia, de Mestre Didi. As narrativas tratam de figuras importantes do Candomblé, os orixás, seus mitos e tradições. Observou-se que os contos não são meras narrativas, mas veículos de transmissão de saberes ancestrais que refletem a resistência afro-brasileira. Mãe Beata e Mestre Didi mesclam a mitologia yorubá com o que aprenderam no terreiro de candomblé a partir das narrativas orais e suas próprias memórias. Eles buscam fazer a junção de sua vivência como pessoas pretas e como parte da comunidade dos povos de terreiro, trazendo textos sagrados na oralidade para o registro escrito, mantendo aspectos da narrativa oral. Ao descrever ritos e mitos, como o uso da pena de Ekodidé e o poder de Exu, as obras reforçam o papel do Candomblé como um elemento vivo e dinâmico da cultura brasileira. Essas narrativas são fundamentais para desconstruir estereótipos e valorizar as práticas religiosas afro-brasileiras, contribuindo para ampliar a compreensão pública dessa religião, que foi marginalizada ao longo da história do Brasil.

Downloads

Publicado

2025-07-11