“NEGRAS ATLÂNTICAS”: ESCREVIVÊNCIAS DE MULHERES NEGRAS NO BRASIL E NA DIÁSPORA AFRO-CARIBENHA
Palavras-chave:
Mulheres Negras, Experiência, Escrevivência, Interseccionalidade, DiásporaResumo
Dentro de um complexo percurso histórico de rotas que cruzam o Atlântico, formulando encontros e desencontros culturais entre povos que vivem na diáspora africana, nossa pesquisa embarcou em uma viagem traçada com a pena de mulheres negras, conectadas por meio de suas obras e trajetórias. Nosso objetivo, desse modo, caminhou no sentido de analisar as convergências nas escritas de Carolina Maria de Jesus, Luzia Santos Florêncio e Françoise Ega, a fim, também, de entender os agentes responsáveis por tais semelhanças e como estas se refletem em suas vidas. As fontes privilegiadas na análise foram suas obras: Quarto de despejo: diário de uma favelada (Carolina); Mesmo assim eu sou feliz (Luzia) e Cartas a uma negra: narrativa antilhana (Françoise). Em termos teórico-metodológicos trabalhamos com as perspectivas de escrevivência (Conceição Evaristo), interseccionalidade (Angela Davis) e de diáspora (Stuart Hall). Nesse sentido, procuramos pensar como a escrita contribuiu para que as autoras estudadas conseguissem resistir, lutar e denunciar as diversas violências que lhes foram sendo impostas ao longo da vida. Valendo-se do conceito de diáspora, caminhamos na direção de compreender as escrevivências de Luzia, Carolina e Françoise, como algo que diz respeito não apenas a suas trajetórias individuais, mas também a muitas pessoas impactadas por experiências diaspóricas. As questões narradas por Carolina de Jesus, por exemplo, entendemos ser parte de uma estrutura histórica cujos impactos sociais e econômicos recaem sobre mulheres negras no Brasil, América Latina e para além do Atlântico. É devido a isto que com a publicação de “Quarto de Despejo”, assistimos a um fenômeno de entrelaçamento e identificação entre mulheres racializadas do mundo todo. Assim, com o avanço na análise do livro, pudemos construir uma linha com a escrita de outras intelectuais negras que vivenciaram cenários semelhantes, como no caso da escritora goiana Luzia Florêncio e outras escritoras negras da diáspora africana, como a martinicana Françoise Ega.