Influência de tratamento superficial em serragem de bioargamassas

Autores

  • Gláuber V. Santos Lima Engenheiro civil
  • Werllem C. Fernandes Almeida Engenheiro civil
  • Túlio da S. Trindade Engenheiro civil
  • Andrielli Morais de Oliveira Universidade Federal de Goiás (UFG)
  • Carolina Coelho da Rosa Universidade Federal do Pará (UFPA)

Palavras-chave:

Serragem, Resíduos, Tratamentos, Argamassas, Detergente

Resumo

A reciclagem e a reutilização são formas de reduzir o descarte de resíduos ao meio ambiente e de aumentar o ciclo de vida dos materiais com eficiência, valores sustentáveis e econômicos agregados. A extração e o beneficiamento de madeira legal na região norte no Brasil ocasionam um elevado volume de resíduos, os quais, no momento, não possuem destino ou reaproveitamento em larga escala. Adicionalmente, há potencialidade do uso destes rejeitos, nomeados de serragem, em matrizes cimentícias formando compósitos de bioargamassas com a ressalva de potencial degradação da matriz, quando a serragem é aplicada sem tratamento superficial. Assim, o presente artigo avalia a interveniência do uso de serragem tratada, em substituição parcial ao agregado miúdo natural, em compósitos de bioargamassa. Para tanto, um tratamento superficial de baixo custo financeiro e de fácil execução na serragem à base de detergente neutro em solução à temperatura de 80°C foi aplicado. Ensaios no estado fresco e no estado endurecido nas argamassas sem serragem e na bioargamassa foram realizados. Como resultado, a incorporação de ar e a retenção de água foram maiores para a bioargamassa, provavelmente pela porosidade da serragem, enquanto que a densidade de massa apresentou menor valor. A bioargamassa apresentou menor resistência à compressão e menor resistências à tração por compressão diametral. Contudo o acréscimo de resistência à tração por compressão diametral de 7 para 28 dias foi maior para a bioargamassa (52,6%) do que para a argamassa de referência (4,7%). Isso provavelmente pode ser explicado pelo reforço fibroso da serragem controlando parte da propagação de fissuras sob cargas. Por fim, a bioargamassa também apresentou maior índice de vazios (%), menor absorção por imersão e maior absorção capilar, comparadas as argamassas sem serragem. Estes resultados abrem a perspectiva de uso da serragem na construção civil em diversos componentes de sistemas construtivos, ao mesmo tempo que dá um destino apropriado a ela. 

Biografia do Autor

Andrielli Morais de Oliveira, Universidade Federal de Goiás (UFG)

É Doutora em engenharia civil com experiência em "Durabilidade de Materiais Compósitos Cimentícios e Comportamento Mecânico, incluindo fluência" pelo PEC/COPPE/UFRJ. Parte do doutorado em colaboração com a Universidade de TU Dresden em Dresden/Alemanha. Tem expertise e atua em:-"Durabilidade e Desempenho de Estruturas de Concreto, Materiais de Construção e Materiais Cimentícios Suplementares", _ "Materiais Cimentícios Fibrosos", _ "Cloretos, Corrosão de Armaduras, Técnicas de Investigação e Monitoramento da Corrosão" e Parâmetros eletroquímicos de Corrosão", - "Aplicação de Técnicas Microscópicas e Mesoscópicas para Análise de Materiais"- "Estanqueidade e Impermeabilização nas Construções com Interesse em Materiais, Testes, Sistemas Construtivos, Projeto e Controles de Produção", -"Aperfeiçoamento de Materiais existentes e Desenvolvimento de Novos Materiais - vieses de desempenho, durabilidade, sustentabilidade, inovação e tecnologia" e - "Norma de Desempenho ABNT NBR 15.575 - Temas de Durabilidade e Estanqueidade".É docente da EECA- Escola de Engenharia Civil e Ambiental UFG - Universidade Federal de Goiás, atua nos cursos de graduação em engenharia civil e ambiental e sanitária, no curso de especialização em construção civil e no curso de mestrado e doutorado - PPGGECON (Programa de Pós-Graduação em Estruturas, Geotecnia e Construção Civil da EECA/UFG).

Carolina Coelho da Rosa, Universidade Federal do Pará (UFPA)

Professora do curso de Engenharia Civil no Campus Universitário de Tucuruí (CAMTUC)da Universidade Federal do Pará (UFPA). Possui graduação em Engenharia Civil pela Universidade Federal do Pará (UFPA, 2002), mestrado em Engenharia Civil pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio, 2005) e doutorado em Engenharia Civil pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC, 2018).

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Acesso em: 20 out. 2021.

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Publicado

30.12.2021

Como Citar

V. Santos Lima, G., C. Fernandes Almeida, W., da S. Trindade, T., Morais de Oliveira, A., & Coelho da Rosa, C. (2021). Influência de tratamento superficial em serragem de bioargamassas. Revista Tecnia, 6(2), 104–126. Recuperado de https://periodicos.ifg.edu.br/tecnia/article/view/1023

Edição

Seção

Ciências Exatas e da Terra