REPRESENTAÇÕES DO PÂNICO CÍVIL NO FILME “MADRUGADA DOS MORTOS”
DOI:
https://doi.org/10.59616/cehd.v2i6.1895Palavras-chave:
Zumbis, Monstro, Insurreição, Terrorismo, 11 de SetembroResumo
Trata-se de análise da cultura de massas contemporânea sob a égide de uma perspectiva teórico-crítica inspirada em Slavoj Žižek e Walter Benjamin acerca dos construtos imagéticos do Estado liberal. O presente texto avalia as representações apocalípticas do cinema norte-americano como indícios e rastros de um imaginário utilitário-individualista. A proposta é pensar a temática contemporânea dos filmes de mortos-vivos (zumbis) como um discurso acerca do caráter malévolo do ser humano que precisa da contenção do Estado para a preservação da vida e da propriedade. A metodologia empregada foi a análise da trama, a interpretação das cenas com base nas reflexões acerca do conceito de representação. Na argumentação desenvolvida, associa-se esse tipo de cinema catástrofe aos traumas coletivos gerados pelos protestos de Seattle em 1999 e pelos atentados terroristas do 11 de Setembro. Para tanto, propôs-se analisar o filme Madrugada dos Mortos (2004), do diretor Zack Snyder, também considerando outras manifestações da cultura midiática. Os procedimentos empregados consistiram na comparação de temas e cenas do filme com eventos ocorridos nos Estados Unidos. Eles buscaram a compreensão de uma sensibilidade socialmente construída acerca do medo das multidões, incluindo tanto o terrorismo quanto a insurreição popular. A cultura do medo impõe a necessidade de pensar o monstro como um ser que emerge do lado de dentro das fronteiras, manifestando-se no espaço conhecido e familiar. Quando em terras distantes, o monstro é fascinante, interessante e exótico, mas se mostra problemático quando encontrado na vizinhança. Um exemplo disso seria o atentado às Torres Gêmeas, quando a cidade de Nova York, até então símbolo do capitalismo, viveu uma forte ameaça, forçando os citadinos a lutarem por suas vidas.
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